segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sábado que vem tem (mais)...

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?

(Carlos Drummond de Andrade)



A vida adulta é tão sem graça quanto eu supunha. Pudera eu evocar aqui todos os poetas e minha angústia não seria definida.

Oh, que saudades que eu tenho da minha infância querida em que eu ansiava aniversários, Natais, Páscoas, quadrilhas e 'setes-de-setembros'. Hoje já não os anseio, mas insistem em vir. Insistem em lembrar tempos áureos, entes idos, sonhos partidos e amores não vividos. Ontem não foi diferente.

Ontem fiz aniversário pela última vez na semana e não poderia ser de outra maneira, ontem foi sábado, a semana acabou. Mas no próximo sábado haverá espetáculo. Minha irmã vem da Bahia. Mais uma vez comemoraremos. Mais uma vez terei de tirar da gaveta minha máscara de festas, meu melhor sorriso e viver o aniversário. Em vez de aniversário eu poderia ter lançado mão de outro substantivo, comemoração, talvez. Mas há de tudo. Há teatro. Encenação. Farsa. Comemoração não há.

Quando fui criança, meus aniversários eram diferentes para mim. Eu manifestava uma real alegria e, honestamente, era grato à vida. Atualmente, percebo que já não há alegria, tampouco gratidão. Questiono. Revolvo-me. Revolto-me.

Ontem, amigos e parentes compareceram. Cada qual fez bem seu papel e soube se posicionar em cena. As falas estavam perfeitas: "nossa, como o tempo passa, não?"; "rapaz, mas que felicidade em vê-lo"; meus mais sinceros votos de felicidade"; "eu não perderia sua festa por nada neste mundo". As vozes ainda ecoam em meus ouvidos. Como estou cercado por pessoas amáveis!

A noite, porém, acabou. Voltei a visitar as masmorras da alma. Tive medo. Quis encontrar o menino que gostava de aniversários. Só encontrei um espelho. Talvez o menino esteja preso, lá dentro, em algum lugar do espelho. Nos olhos que vi, talvez. Quis quebrar o rosto que vi no espelho. Quis libertar o menino. Mas o espelho não se partiu. Quis Gritar. Quis gemer. Quis tocar a valsa vienense... e se eu morresse? _indaguei. Mas você não morre, você é duro, José ! _respondeu-me o poeta. Sábado que vem tem mais.

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