sábado, 19 de julho de 2014

Qué pasa?

"Qué pasa con el mundo que está tan inmundo?
Qué pasa? Pregunto
Qué pasa? Pregunto
Pregunto yo, qué pasa hoy con el mundo
Que está tan absurdo, que está taciturno?
Qué pasa que nada bueno nos pasa?"
(Juanes)

Conferindo as páginas de notícia, os versos de Juanes inevitavelmente me vieram à cabeça. Divido com ele este questionamento: "qué pasa?" A Colômbia de Juanes e o narcotráfico; Israel oprimindo e matando palestinos; russos financiando milícias na Ucrânia... Lembro-me de quando estava na escola – quero dizer, quando era estudante, afinal, nunca deixei a escola – e que estudando o século XX, suas guerras e seus dramas, questionava, a mim mesmo e aos professores, como fora possível tanta loucura há tão pouco tempo (estávamos ainda no século XX). Na minha ingenuidade infantil, eu acreditava estar vivendo num mundo de paz, se não plena, perto da plenitude. Cresci, estudei um pouco mais e percebi que não era como pensei, aliás, era o inverso.

Conferindo as páginas de notícia, também me veio à cabeça um discurso de Chaplin. Lembro-me de quando o assisti a "O Grande Ditador" pela primeira vez – eu ainda era novinho e bobo – e acreditei estar vivendo no mundo "em que a ciência e o progresso conduzam à ventura todos nós". Eu era mesmo tolo...

Conferindo as páginas de notícia, eu desacreditei no mundo e na humanidade.

Conferindo as páginas de notícia, revisitei "O Grande Ditador".

Revisitando "O Grande Ditador" eu quis crer novamente na possibilidade de um mundo próspero e venturoso. Precisamos crer nisso para suportar a realidade. Precisamos trabalhar incansavelmente para isso. A ventura, o progresso e a paz não dependem de homens como Benjamin Netanyahu ou Vladimir Putin – muito pelo contrário! Depende de mim, quando entendo e respeito meu aluno, apesar de sua indisciplina, apesar do sistema educacional público que massacra a mim, professor, e a ele, aluno. Depende do médico que, apesar de hospitais sucateados e dos diversos problemas que enfrenta diariamente, recorda-se do Juramento de Hipócrates. Depende do faxineiro que, apesar da indiferença e da invisibilidade em que o lançam, nos deixa ambientes saudáveis e limpos. Depende de cada um que faz o seu melhor. Depende de nós, como diz a canção.

Revisitando "O Grande Ditador", senti-me tocado por seu discurso final.

Revisitando "O Grande Ditador" e seu discurso final, desejei compartilhá-lo com você, que por acaso me lê agora. Ei-lo:

"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus... não-judeus... negros... brancos.

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Queremos viver pela felicidade dos outros, não pela miséria dos outros. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!"

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Aí, eu me levanto e abro a janela



Montes Claros, 23 de junho de 2014, por volta das seis da manhã...



Ansiedade, insônia, pensamentos a mil... Aí, eu me levanto, abro a janela (aquela mesma, lateral, do quarto de dormir) e vejo o dia que está nascendo. O céu se rasga em cores e a aurora tinge a terra de um rubro intenso, que pouco a pouco se desbota nos mais diversos tons, do vermelho ao amarelo. Nessa hora, percebo o que o salmista sentiu quando disse que "os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos" (Sl 19:1). Como é lindo o dia nascendo!!

Diante desse espetáculo, sinto-me mal por toda ansiedade e incerteza que alimentei. Um dia tão lindo assim só pode ser bom. Tanta beleza não foi criada com outro propósito, senão o de ser boa. Estou resoluto: meu dia vai ser bom. Trabalharei incansavelmente para que o seja. Dar lugar à tristeza e ao pessimismo, após o espetáculo que vi, seria até um pecado. Hoje, não foi apenas o sol que vi nascer. Hoje, Deus me deu bom dia.

sábado, 5 de abril de 2014

Wilker



O Roque Santeiro morreu? Nem acredito... Certos artistas, certos apresentadores e atores, entram em nossos lares tão amiúde e há tanto tempo que parecem sempre terem existido e que sempre existirão. Gente como Sílvio Santos, Regina Duarte, Raul Gil e até o chato do Faustão. A sensação é de que sempre os veremos no próximo domingo, na próxima novela. Um dia, porém, a gente se dá conta de que, como diz a Cissa Guimarães, são gente como a gente e, pasmemo-nos: morrem!

Hoje foi o José Wilker - grande ator e crítico de cinema nacional. Vai o ator e ficam Vadinho, Roque Santeiro, Antônio Conselheiro, Mundinho Falcão, Giovanni Improtta, João Fernandes de Oliveira, Zeca Diabo, JK... Vai o homem, fica sua obra.

Vão-se os grandes atores, grandes nomes do teatro, do cinema e da TV. Ficam os ex-BBB, as subcelebridades... Lamentavelmente, nos resta tomar de empréstimo a fala do Coronel Jesuíno, a quem Wilker deu vida:

"Me dão licença, eu vou cagar!"

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Enquanto houver cavalo...

"Observe a formiga, preguiçoso, reflita nos caminhos dela e seja sábio!
Ela não tem nem chefe, nem supervisor, nem governante,e ainda assim armazena as suas provisões no verão e na época da colheita ajunta o seu alimento. Até quando você vai ficar deitado, preguiçoso? Quando se levantará de seu sono? Tirando uma soneca, cochilando um pouco, cruzando um pouco os braços para descansar, a sua pobreza o surpreenderá como um assaltante, e a sua necessidade lhe virá como um homem armado."
(Provérbios 6:6-11)

Quando bate aquele desânimo, aquela vontade de desistir, de jogar tudo para o alto, gosto de refletir neste conselho de Salomão. Grande sábio que foi, o rei Salomão não utilizou de tratados filosóficos complicados para dar suas lições. Com comparações e metáforas como a da formiga, mostrou como "as regras do jogo da vida" são simples. Quem trabalha, quem corre atrás, quem armazena suas provisões no tempo certo, garante os recursos necessários para sobreviver aos tempos difíceis.

Como tudo na vida, é uma questão de escolha. A formiga (se racional fosse) poderia escolher vadiar. No entanto, opta pelo trabalho árduo e pelo esforço desmedido. Nós seres humanos, "racionais" que somos, muitas vezes optamos pelo lazer, evitamos nos esforçar e relegamos o trabalho em segundo plano, mas gostamos e queremos usufruir de seus frutos.

Outra regra simples da vida: Não há colheita sem semeadura. Se estamos usufruindo de frutos que não plantamos, alguém anda semeando por nós. "E isso é ruim?" poderia alguém indagar. Respondo: de forma alguma isso é ruim. É muito confortável termos provisão de frutos em nossa vida sem o trabalho de cultivá-los. Há, porém, um grande risco nisso. O semeador que cultiva os frutos que, por ventura, possamos consumir sem trabalhar, pode um dia parar de semear e nos deixar à míngua.

Quando assumimos o cultivo de nossas próprias lavouras, sabemos quando esperar a colheita e o que fazer com ela. Controlamo-la. O preguiçoso não sabe o que é isso. Habituou-se à inércia e, como um passarinho no ninho, aguarda de boca aberta que alguém lhe leve o alimento.

O dileto leitor talvez estranhe a temática desta postagem e possa estar se indagando: "Terá ele passado tanto tempo sem escrever por estar com preguiça?" A resposta é: não! Ultimamente, deixo de fazer muitas das coisas de que gosto (entre elas escrever) justamente pelo contrário da preguiça: o trabalho em demasia. Este ano a vida me trouxe ótimas oportunidades e eu me lancei a elas. Ocorre que Deus foi tão generoso comigo que as oportunidades foram muitas e, para aproveitá-las, sacrifiquei algumas superfluidades.

Assim vou eu com minha vida de formiga, mas eis que volta e meia surge alguma cigarra vadia me convidando para cantar com ela e querendo levar alguma vantagem do meu esforço. Bobo que às vezes sou, costumo me flagrar fazendo o trabalho de alguém que não se esforça. Nessas horas, lembro de um provérbio, não de Salomão, mas de uma pessoa tão sábia quanto ele: minha mãe. Costuma ela dizer: "enquanto houver cavalo, São Jorge não anda à pé." Que mulher sagaz!

Hoje, foi um desses dias em que fiz papel de cavalo. De burro, aliás. Dispus-me a trabalhar para alguém que simplesmente não liga para nada, pois ainda conta com quem lhe envie doces frutos, os quais saboreará preguiçosamente. Como na vida "nada vem de graça, nem o pão, nem a cachaça", eu é que tenho de dar valor ao meu esforço. O mundo lá fora não dá a mínima para o peso de meu fardo, que, há que se dizer, não é nada leve.

A ficha caiu. São Jorge, arrume outro cavalo!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Um certo babacão Rodrigo


            Um certo apresentador sensacionalista de programa policial da Rede Record, volta e meia, nos brinda com verdadeiras pérolas do mineirês, esse dialeto tão “bunitim” da língua portuguesa. Das várias expressões e provérbios a que recorre, adoro quando diz: “vou viver minha vida inteira e mais seis meses e ainda não terei visto de tudo neste mundo.” Que verdade mais verdadeira! Quando pensamos que já vimos de tudo, que nada mais nos surpreende, nos deparamos chocados dizendo: nossinhora!! esse cara não fez/disse isso... né pussível uma coisa dessa!!

            Infelizmente, o apresentador sensacionalista tem razão, vive-se uma vida inteira, e das mais longevas, sem que se veja de tudo, ou, antes, sem que deixemos de nos surpreender com as velhas surpresas. A capacidade (des) humana para o ridículo, para o medíocre, o mesquinho, o vil, a baixeza, a ignomínia, parece não ter fim.

            Segunda-feira de manhã, feita minha toilette, tomado o desjejum, início o ritual sagrado do presente século: acessar as redes sociais e ver a quantas anda o mundo. Facebook aberto, uma curtida aqui, um comentário ali, um “cruz credo” numa foto acolá... e assim o homem “culto” que sou vai se inteirando dos “fatos relevantes”, da pauta do dia. Eis que, a certa altura, vejo a opinião bostástica de um cara comentando sobre a ''Festa do Pequi'', evento tradicional aqui de Montes Claros que a cada ano se apresenta mais desorganizado e menosprezado pela prefeitura da Terra do Pequi. Reproduzo-o ipsis litteris:

 

 

 

            Um ano e três meses vivendo em Montes Claros e os hábitos e comportamentos da província ainda me chocam. Choca-me supor que ao indivíduo não envergonha publicar comentário tão deplorável e hediondo. Choca-me saber que há aqueles que coadunam com tamanho preconceito. Obviamente, gente assim, que não é lá muito gente, existe em todos os lugares, não é um privilégio de Montes Claros, mas noutros lugares a coletividade já não tolera pessoas assim. Ah! como seria bom se esse indivíduo passasse a frequentar o Prédio 2 da Unimontes, prédio em que funciona o Centro de Ciências Humanas (CCH). Talvez assim se tornasse um pouco mais humano.

domingo, 7 de outubro de 2012

O ébrio

Hoje - um amigo meu e eu sentados à uma mesa, lado de fora da lanchonete - um sujeito negro, aparentando ter entre 30 e 35 anos, mal cheiroso e muito falante, se dirigiu até a nós, explicou que vinha de outra cidade, que estava sem grana, tirou do bolso uma cartela de loteria, entregou a mim, pediu que eu orasse para Deus o abençoar de modo que sua cartela fosse premiada. Depois me falou que estava afim de fumar e tomar cachaça. Perguntou se eu não poderia lhe comprar um maço de cigarros e uma dose da branquinha, ao que imediatemente aquiesci. Chegando ao bar, acabei por pagar-lhe três doses de pinga, as quais levou para dividir com seus companheiros mendicantes. Há tempos que eu não me sentia tão cristão como me senti hoje. Pratiquei a verdadeira caridade.

 "Dai bebida forte ao que está prestes a perecer, e o vinho aos amargurados de espírito.
Que beba, e esqueça da sua pobreza, e da sua miséria não se lembre mais."
Provérbios 31:6-7

 "(...) porque os únicos que me interessam são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, que querem tudo ao mesmo tempo. Aqueles que nunca bocejam ou falam obviedades, mas queimam, queimam feito fogos de artifícios em meio à noite.”
— do filme 'Na Estrada'

 
Montes Claros, 06 de outubro de 2012. Que se registre!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Por que tão jovens?

O tempo talvez seja o mais complicado dos mestres e o menos ortodoxo dos médicos. Ele nos ensina através dos métodos mais radicais e nos aplica tratamentos de choque. Ao atingirmos certa idade, o tempo e a vida nos expõem a situações às quais, normalmente, as crianças e os adolescentes não costumam experimentar, como a morte, que passa a ser visita recorrente. Neste meu 1/4 de século já tive de me confrontar com a desagradabílissima notícia (que sempre vem de forma inesperada) da morte de um conhecido, um parente, um amigo. Notícias assim são indigestas, amargas... Recusamo-nos a aceitá-las. O tempo e a vida, porém, são implacáveis, não aliviam a nossa barra, por mais bonzinhos que sejamos. Somos forçados a seguir em frente, mesmo com o nó na garganta, o aperto no peito e os passos vacilantes.

Há quase dois anos, estava eu em Lagoa da Prata, era carnaval, chovia muito, eu fardado, brincando de polícia, armado nas ruas pela primeira vez.... Há pouco menos de uma semana, a notícia de que um dos meus compenheiros desse estágio policial falecera.

Há uns cinco anos, eu era universitário, cheio de sonhos e planos, membro de uma igreja singular e de um grupo de jovens como o qual não havia outro. Nossos debates eram calorosos, de alto nível; jovens e adolescentes com um papo cabeça, buscando ser verdadeiros cristãos neste mundo de valores cada vez mais questionáveis. Em nosso meio, uma jovem teóloga que, como todos nós, trazia seus conflitos, seus pontos de vista, suas impressões sobre o mundo. Dividimos, naquele trecho do caminho, nossas vidas, angústias, anseios, sonhos e planos. Intercedemos uns pelos outros, louvamos a Deus, estudamos a Palavra. Há pouco menos de uma hora, a notícia fatídica de que aprouve a Deus recolher nossa jovem amiga.

Marilene e Almeida não foram os únicos, mas os mais recentes. Certamente a vida continuará me confrontando com notícias assim, até o dia em que o recolhido por Deus for eu. Longe de mim questionar os desígnios do Pai, mas é difícil afastar as perguntas que insistem em nos rondar. "Por que eles? Por tão jovens?"