domingo, 9 de janeiro de 2011

A razão de viver.


Quem foi que disse que somos imortais? Quem foi que disse que viveremos para sempre? Ninguém. Eu sei e entendo. Entendo sob a ótica da Biologia, mas a Filosofia, a ciência dos chatos e desocupados, insiste em me incomodar. Desde a mais tenra idade sabemos que um dia toda vida cessa. No primário, nas aulas de Ciências, já conceituamos friamente nossa condição: todo ser vivo nasce, cresce, reproduz-se e morre. À medida em que o tempo passa vamos nos acostumando a ver a morte sempre a ceifar um ali, outro acolá. Torna-se banal. Um dia, porém a percebemos por perto, perto demais. Desesperamo-nos!

A morte nos incomoda a todos por duas razões. A primeira, é o vazio que a perda de um ente querido deixa nos que ficam. A segunda, a certeza de que ela, a morte, nos espera a todos, não se sabendo quando.

Imagine-se certo número de homens presos e todos condenados à morte, sendo uns degolados diariamente diante dos outros e os que sobram vendo sua própria condição na de seus semelhantes e se contemplando uns aos outros com tristeza e sem esperança, à espera de sua vez. Eis a imagem da condição dos homens. (Blaise Pascal)

Ontem à noite eu tinha planos. Todo mundo espera alguma coisa de sábado à noite, como bem cantou Lulu Santos. Eu também esperava, mas não era uma notícia ruim que eu queria. Sentado num bar, prosa boa com um amigo, o celular toca. Pelo adiantado da hora e pelos rodeios de minha mãe, pude perceber que algo não estava bem. Uma prima falecera... fiquei calado, custando a crer na veracidade da notícia. Depois caí na real. A alegria e descontração deram lugar à tristeza e à raiva.

Raiva. Talvez não seja o sentimento que as pessoas sensatas esperam de mim, um cristão bem educado e ciente de que a vontade de Deus a tudo se sobrepõe. Mas era raiva o que eu sentia. As mulheres, nosso assunto até então, deram lugar a divagações sem sentido que passei a fazer com meu amigo. Uma infantilidade completa, mas como entender que haja pessoas más que morrerem ricas, felizes e velhas, bem velhas? Como entender que uma mulher boa, honesta, jovem, mãe de família, tenha sua vida interrompida numa curva da estrada?

A raiva agora passou. Deu lugar a um incômodo que não me deixa ficar alegre com nada, que me desanima da vida e que me faz repensar o sentido de tudo. Do meu trabalho. Dos meus sonhos capitalistas. Da ânsia que move os jovens. Por quê? Para quê? Até quando? São perguntas sem respostas. Para uma - apenas uma- talvez eu encontre solução. Talvez seja ela o segredo, o grande enigma. Talvez seja ela o motor dos sonhos, das empreitadas. Para quem?

Esta é a única razão que econtrei. Para quem eu faço? Para quem eu sou? Isso me fez lembrar de uma constatação do professor Gretz. Tem gente que compra o que não precisa, com o dinheiro que não tem, para mostrar a quem não gosta. Grande verdade... aqui estamos muitos de nós confirmando a tese. Desperdiçando vida com quem não merece. Ausentando-nos de quem amamos. Alheios. Por quê? Para quê? Até quando? Família,  amigos, pessoas que amamos... eis a razão de viver. Quando se partem, deixam dor e vazio sem medidas. Mas a certeza do amor vivido supera todo e qualquer sentimento ruim, pois o amor nunca morre. Quem se vai permanece vivo no amor.

Amemos uns aos outros. Desprezemos a morte. Ela virá de um jeito ou de outro, como visita indesejada, não avisa a hora que chega. Sigamos o conselho do sábio. Desfruta da vida com a mulher que amas, durante todos os dias da fugitiva e vã existência que Deus te concede debaixo do sol. Esta é tua parte na vida, o prêmio do labor a que te entregas debaixo do sol. Assim falou Salomão.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Só de sacanagem - Elisa Lucinda

Há um texto da Elisa Lucinda que deveria ser lido e refletido por todos os brasileiros, por isso, divulgo-o:


Meu coração está aos pulos! Quantas vezes minha esperança será posta a prova? Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro. Do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta a prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. Meu coração tá no escuro. A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e todos os justos que os precederam. 'Não roubarás!', 'Devolva o lápis do coleguinha', 'Esse apontador não é seu, minha filha'. Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar! Até habeas corpus preventiva, coisa da qual nunca tinha visto falar, sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará!
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear! Mais honesta ainda eu vou ficar! Só de sacanagem! Dirão: 'Deixe de ser boba! Desde Cabral que aqui todo mundo rouba! E eu vou dizer: 'Não importa! Será esse o meu carnaval! Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos.' Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambal. Dirão: 'É inútil! Todo mundo aqui é corrupto desde o primeiro homem que veio de Portugal!' E eu direi: 'Não admito! Minha esperança é imortal, ouviram? Imortal!' Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quizer, vai dar pra mudar o final!

Abaixo, segue um video do poema declamado pela cantora Ana Carolina:

O último banho do ano.


É comum que passagens de ano sejam marcantes. A mim, sempre me marcam. Trago na memória natais mágicos da infância; santas ceias em que tinha a família à mesa, em paz, feliz; réveillons de há séculos, os quais passei fazendo a contagem regressiva num churrasco de parentes, assintindo ao show da virada numa noite de muita chuva, ou mesmo aqueles mais remotos, em que passei dormindo, como convém às crianças, e que no dia seguinte acordava achando sensasional a ideia de que poucas horas atrás era outro ano.

Este réveillon, porém, mascou-me de outro modo. As circunstâncias em si já o colocariam no rol dos mais memoráveis - moro longe de casa, da família, dos amigos... poderia ter sido triste, como não foi, poderia ter sido de muito trabalho, como sucedeu a outros políciais; mas foi de muita festa e animação.

Por ter descansado no natal, fiquei entre os escalados a trabalharem no ano novo, quando confiro a escala, a boa surpresa: estaria livre na noite da virada. Combinei com alguns amigos de irmos a um show promovido na cidade. Fui contente para casa me arrumar. A noite estava meio fria, devido à chuva que não deu trégua. Era aquela garoinha, velha conhecida do mês de dezembro. Entrei embaixo do chuveiro, água morna e revigorante. De repente... um estouro!!! O chuveiro começou a vazar água pela parte de cima... água gelada!!!

Saio eu, nu, apartamento afora gritando por alguém que desligasse a chave elétrica, antes que fechasse um curto. Pior que as inevitáveis chacotas, que vieram depois, foi ter de terminar o banho na água gelada. Foi verdadeiramente inesquecível a noite de 31 de dezembro de 2010.

Banho tomado, calça jeans, all star, camisa branca para atrair paz, amigos ''bebemorando''...

sábado, 1 de janeiro de 2011

Dois mil e onze cheogu e nada mudou...

Ano novo chegou e cá estou eu, rachando de tonto. São quatro e vinte da manhã. Daqui a pouco pego no batente. Policiamento à pé na praça. Chamada às cinco e meia. Serviço até meio dia. Enquanto escrevo, para não cair no sono, meu amigo de Polícia dorme num colchão aqui perto, mais bêbado que eu, tem a sorte de não trabalhar amanhã cedo. Vou me virando aqui na internet para não cair sono e não perder a hora do trabalho. Eita vida difícil, Deus-do-Céu!!!