quinta-feira, 10 de março de 2011

Carnaval? Carnavai... vai tarde!


Não é minha intenção escrever aqui um artigo moralista. Nunca foi o propósito deste blog, que, aliás, nem um propósito tem. O quê não sei se o torna mais ou menos nobre por isso. Que se dane! O fato é que hoje é quarta-feira de cinzas, eu sou policial militar e trabalhaei cinco noites no carnaval. Isso me expôs a todo tipo de foliões e, acredite, caro leitor, não é nada fácil. Bêbados, ninfomaníacas e loucos de todo gênero nos adoram. Alguns até me fizeram rir, outros, porém, despertaram em mim a mais profunda pena ante sua degradação moral, física e cultural.

Falar de cultura, não vou; isso é muito relativo. Mesmo convencido de que ''tchubirabiron" e ''minha mulher não deixa não'' sejam dos maiores lixos sonoros que o nordeste nos legou. Mesmo tendo a música baiana como a antimúsica brasileira, como um atentado ao bom gosto, não vou me ater a isso. É relativo, já disse. Minha preocupação aqui é com os foliões que se embebedam até não poderem mais. Jovens, na esmagadora maioria. Fico me questionando: terá sido sempre assim? A quem interessa a manutenção de uma festa, como o carnaval, nos moldes de hoje?

Sinceramente, sou a fovor de que seja abolido o feriado símbolo da brasilidade. Não consigo conceber sua manutenção. No carnaval se batem recordes de mortes nas caóticas estradas brasileiras. As ruas se tornam mictórios a céu aberto. O país pára. A televisão, único lazer [questionável] dos menos favorecidos, torna-se vitrine de umas poucas cidades, numa mobilização para vender o carnaval como o suprassumo de nossa cultura. Todos os anos, nos dias da festa quando busco notícias sérias e que verdadeiramente importem em algo, vejo nos telejornais São Paulo e Rio de Janeiro (as capitais, apenas; o restante dos dois estados é desprezado) com suas escolas de samba e suas ruas lotadas; vejo o Galo da Madrugada, no Recife; os insurportáveis trios elétricos de Salvador, que agora se difundem Brasil afora; e alguma coisa sobre alguma outra cidade. É isso.

Além do carnaval fantástico da TV, existe a mediocridade das cidades anônimas. Em minha primeira 'festa da carne' como policial,  vi o despreparo do poder público, a desorganização das festas e a luta que é para os sérios sobreviverem a tais dias. A tão propalada festa do povo, das massas, das multidões, é palco de preconceitos e segregação, retrato fiel de nossa sociedade. Há camarotes, abadás, cordas que separam foliões com algum dinehiro dos sem dinehiro algum. A única coisa em comum entre carnaval de pobre e rico é a promiscuidade sexual e a bebedeira. Nisso, ricos e pobres se igualam. Se igualam pelo que há de pior.

No curso de formação policial, me conveceram, com argumentos razoáveis, de que nós, policiais militares, emblematizamos o Estado. Somos a personificação da lei e da ordem. Somos tentáculos do poder constituído. Fazemos o estado de direito [ou não] se afirmar pela força, inclusive e cotidianamente. Por isso, e por minha condição de cidadão, tanto me preocupa o carnaval. Além da nobilíssma cidadania, preocupa-me os trinta anos de polícia que me aguardam até eu me aposentar. Será que tenho estrutura para mais vinte nove caranavais? Não sei. Sei que a imagem de uma adolescente, em coma alcoólico, trazida até mim e largada por seus ''amigos'' ao aos meus pés, no chão molhado, não sai de minha cabeça. Ao avistarem o polícia aqui, vieram em um ''toma que o filho é teu'' e se mandaram.

Agora me esforço repensando o carnaval. Sonhando com dias melhores. Com menos mortes nas rodovias. Menos brigas. Menos álcool e drogas. É o que posso fazer no momento, pensar e repensar. Que de meu pensamento brote alguma ação e que Deus me livre da desumanidade de ver uma minha semelhante caída aos meus pés e agir como se fosse algo normal.


Abaixo, deixo videos que ilustram o carnaval brasileiro: