quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Síndrome da raposa.

Minha última postagem - um trecho do livro "O Pequeno Príncipe" - é uma das mais belas passagens que, na minha opinião, há na literatura. Aqui quero comentar o prazer da raposa às quintas-feiras.

Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!

Hoje experimentei sensação idêntica. Às quartas-feiras, no quartel de Bom Despacho, da Polícia Militar de Minas Gerais, todo pessoal da administração e alunos da Companhia de Ensino e Treinamento, onde estudo, são dispensados à hora do almoço. Têm a tarde livre para cuidarem de assuntos particulares, irem ao banco e afins. Tudo isso ocorre em tese, visto que quase sempre os alunos da Companhia são empenhados em serviços internos de limpeza e policiamento da vila militar.

Desta vez, porém, foi diferente. Deram-nos uma tarde inteirinha de liberdade e eu pude perceber porque tantos lutaram e morreram por ela. A liberdade, quanto encontrada, faz das coisas mais banais momentos únicos de êxtase e transe. Assim aconteceu comigo.

Saí do quartel às 13:00 horas, sob o escaldante Sol Bondespachense. Em casa, comi sofregamente, tomei um banho frio, revigorante, e fui às ruas. Fiz a visita ao dentista, que a tempos posterguei. Conversei com conhecidos que encontrei. Visitei o comércio... Quis intoxicar-me com todas as delícias que vi pela frente. Comprei chocolate. Comi pastel de queijo e bebi coca-cola. Tomei sorvete. Empanturrei-me!

Na volta para casa fui tomado pela melancolia dos poetas. Pensei muito na morte da bezerra. Senti-me como a raposa Saint-Exupery. Senti falta dos ritos, daquilo que faz um dia diferente dos outros. Quisera eu que todas as quartas-feiras fossem como a de hoje: bateção de pernas durante a tarde e navegação na internet para arrematando o dia.

Um comentário:

  1. Olá Tarcísio, que saudades. Você continua escrevendo bem. Gostaria de ter notícias suas. Aqui é a Elaine Cristina da Puc. Espero que esteja bem. Abraços.

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