domingo, 8 de janeiro de 2012

Os rabugentos também sonham.

Acho que estou virando um velho rabugento daqueles. Embora ainda na casa dos vinte, tenho adotado (não intencionalmente, mas por força das circunstâncias) posturas cada vez mais racionais, pragmáticas e sem nenhum toque de otimismo.

Frases como "vai dar tudo certo" ou "basta querer para se conseguir" não têm feito parte do meu discurso. Estou mais para dizer "se der, deu; se não der, não deu". Uma coisa é boa nisso tudo: não ponho a culpa em ninguém por nada que tenha ou não acotecido. Nem a mim mesmo tenho responsabilizado por nada sequer. Tenho preferido pensar que as coisas simplismente são e que não cabe a ninguém buscar responsáveis.

Tempos atrás, eu sofria de um otimismo fora do comum. Achava que o futuro era o tempo verbal da perfeição, do amor e da felicidade. Depois descobri que o futuro é o tempo verbal dos imbecis, que justificam a mediocridade do hoje baseados na ideia de que o amanhã será melhor. Descobri o mal que me levava a ser tão otimista: juventude demais.

Todos passamos por um momento na vida em que, embora extremamente imaturos, nos cremos a sensatez em pessoa. Isso costuma ocorrer por volta dos vinte anos. Nessa idade, as pessoas pensam-se adultas. Senhoras de si. Donas do próprio destino. O ingresso na universidade é talvez um dos grandes vilões que levam muitos ao engano. Uma visita a qualquer curso de graduação, sobretudo nos períodos iniciais, bastará para se constatar o imenso contingente de iludidos que acreditam em seus cursos, em suas carreiras, no futuro.

Chega um dia, porém, em que o sonho acaba e é hora de encarar o mundo, o famigerado mercado. O colega de outrora torna-se um concorrente. Ao que deseja prosseguir estudando, a peneira das seleções possui malha mais fina. Poucos vão adiante. É hora de se esfriar a cabeça e agir como bons mineiros: ir comendo quieto, pelas beiradas. Nesse momento, começamos a ser algo que se pode chamar de maduros. Frases que ouvíamos de nossos pais como "quando você for adulto vai entender" começam a fazer sentido.

O que antes era sonho, agora decantou. Dizem que os sonhos não morrem (e eu acredito nisso), mas hibernam por muito tempo. Hibernam porque há que se pensar na sobrevivência, no dia a dia. A nobreza dos ideais fica para depois. Passamos a nos preocupar com coisas realmente ordinárias tais como ganhar dinheiro e saldar dívidas. O sonho vai ficando lá quietinho, até que nos esqueçamos dele ou até que o realizemos, coisa que poucos fazem.

Hoje fui confrontado a falar de meus sonhos e isso me deixou deverás desconfortável. Senti-me contra a parede. Não falei! Creram que não sonho mais. Julgaram-me um infeliz. Julguei-os uns idiotas. Não falar em sonhos não é o mesmo que não sonhar. Quem não fala também sonha, porém optou por não expor seu sonho à rudeza da realidade. Sonho guardado é sonho que dura mais. Sonho propalado é sonho minado. Ah, como são tolas as gentes sub-20...

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