quinta-feira, 23 de junho de 2011

Deixem-me dormir!

Coisa chata essa de ficarem bisbilhotando minha vida. Quando resolvir "ir aos fatos" na última postagem, não imaginei quão desagrável seria ter minha vida exposta. Confesso que o mais irritante foi ouvir palpites. "Ah, você não deveria ter deixado a polícia..." disseram uns. "Ah, você não deveria nem ter entrado..." disseram outros.

O caso é que eu saí e, momentaneamente, vivo em Bom Jesus da Lapa, cidade do sertão baiano, às margens do Rio São Francisco. A Lapa, como se referem à cidade por aqui, é um lugar lindo. Árido, mas lindo. Existe por aqui um enorme potencial turístico. Embora milhares de pessoas acorram para a cidade anualmente - Bom Jesus da Lapa é a capital baiana da fé, segundo maior destino católico do Brasil, atrás somente da cidade de Aparecida - o lugar é mal administrado, sujo e sem infraestrutura sequer para seus moradores. O que dizer para os turístas?

Como uma cidade catolicíssima, na Lapa há devoção para tudo que é santo. Os maiores: Nossa Senhora da Soledade, São Pedro e o Bom Jesus, obviamente. Como uma cidade nordestina, na Lapa há devoção para São João Batista. É amanhã o dia do dito cujo.

Além do catolícismo, na Bahia se concentra muitos seguidores de religiões afro. Antes eu tinha um discurso politicamente correto de respeito à religião alheia. Julgava um preconceito enorme taxar a Bahia de macumbeira. Mas aqui, tomei birra das religiões citadas. Por quê? O leitor deve estar se questionando. Ocorre que aqui, meu vizinho do lado, adora um pemba. A macumba rola solta a noite toda, pelo menos uma vez ao mês. Ninguém, em um raio de quinhentos metros, consegue dormir. Eu creio que ninguém na cidade inteira consegue dormir, porque a cada cem metros há um terreiro de macumba. Os batuques vão reverberando.

Estaria eu com preconceito cristão? Resquício da Inquisição? Não, porque os católicos aqui também não ficam atrás na barulheira. O dia de São João está chegando, é amanhã, como já disse. A euforia pelo dia do santo é tanta que já há alguns dias que se vendem, e se soltam, fogos aqui e acolá. Para completar, a partir das quatro da manhã, um carro de som sai às ruas tocando uma musiquinha irritante: "João Batista é o precursor... blá, blá, blá..."

Não quero aqui, com meu texto, parecer preconceituoso ou desrespeitar de alguma maneira a crença alheia. Quero apenas deixar meu desabafo contra tais manifestações que não respeitam o sono e o descanso dos outros. Quer cultuar? Faça-o baixinho, afinal, nem João Batista, nem os orixás são surdos.

Um comentário:

  1. Concordo com você. A todo momento tomo um susto por causa das bombas infernais. A maioria não tem dinheiro nem para o pão, mas para comprar bombas, a isso tem. Perguntei a alguns alunos se eles sabiam por que soltavam fogos, disseram: todo mundo solta...

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