quinta-feira, 15 de abril de 2010

Formatura


"É preciso ter ritos. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas." (Saint-Exupéry)

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Formatura: meu rito chegou! Neste dia, diferente dos outros dias, há que se prestar a devida homenagem às pessoas diferentes das outras pessoas. Assim, toda minha gratidão e devoção àquela que, sozinha, enfrentou o mundo para que este momento fosse possível. Mãe, sua luta não foi em vão. Agradeço à minha irmã, que desde sempre incutiu em mim o gosto pela leitura. Ao Joaquim, pela disciplina. À tia Penha e ao Tio Hélio, que mesmo distantes são presentes. À tia Marlene, por seu amor. Aos meus avós, tios e tias, primos e primas; por serem a melhor família que há. Aos meus amigos, por existirem.

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Agradeço ao meu grupo, o "Caldeirão", mais que uma simples 'panelinha'; fizemos das aulas momentos inesquecíveis. À Rogéria, Líbia, Michele, Verônica, Débora e Telma, pelo tempero feminino. À memória da Raimunda, de quem herdo a profissão, pela amizade incondicional que me dispensou em vida. Aos duvidosos e pessimistas de plantão, vocês não sabem a força que me deram. Aos anônimos, que, sem marcarem presença, contribuíram de alguma maneira.

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Por fim, minha gratidão a Deus, pelo milagre da vida. "Para sempre Te louvarei, porque Tu isso fizeste." (Salmos 52, 9a)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Amizade



Meu amigo e eu, amigos já não somos. Na verdade, é amiga. Mas amigo é genérico. Todo mundo é amigo, ou tem amigo, ou sofre por não tê-los. Sabendo da existência deles, e não os tendo, sofrem. (Talvez esses sem-amigos devessem ter lido Saint-Exupery). Talvez não. Nem todos querem ser poetas ou misses. Eu sou dos quem têm amigos. Hoje tenho menos um. Melhor dizer menos uma.

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Minha amiga não foi genérica, foi única. Mas foi. Se foi. Se foi mesmo estando por perto. Em respeito à amizade que tivemos, a chamo Amiga. Amizade é como filho de pais separados, mesmo com o afastamento dos autores, dos filhos e das amizades, eles, os filhos e as amizades, se concretizaram e não há como nos livrarmos deles. Não posso me livrar de minha amizade sem amiga.

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Minha amiga, ingrata, se foi e me deixou com essa amizade saudosamente insistente. Nas horas mais impróprias ela aparece, como filho que vai passar o fim de semana na casa do pai, justamente na noite de sábado em que o pai pegaria a gostosona do apartamento da frente. Aquele mulherão com a qual passou três meses tentando sair. Mas o filho está lá. Filho é filho: gostosona, não nesse sábado, e provavelmente nunca mais, não essa: mulher gostosa é concorrida.

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Ainda falando de mulher gostosa, amizade também pode ser parecida. Quando se teve uma muito boa é impossível não fazer comparações. Amizade nova, ou pré-amizade, como prefiro chamar, porque amizade sempre é velha, do contrário não é amizade, não possui história, não tem memória, 'causos' bons pra se lembrar, como um belo banho de chuva.

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Banho de chuva: a aventura romântico-poética mais clichê possível. No entanto, banho de chuva dá boas lembranças, tão clichês como o banho: pessoas comentando, dizendo que os banhistas ficaram doidos, resfriado, casa 'sujada' e molhada.

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Pré-amizades não têm isso, e quando principiam a ter pode ser a coisa mais maçante, e de tão clichê parecer clichê. Os clichês do mundo só são clichês para a gente quando a gente já os experimentou e os explorou de maneira tal a não querermos repeti-los de maneira alguma, ou daquela mesma maneira sempre.

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Banho de chuva não é pra ser tomado com qualquer pessoa. Amizade também não pode ser construída com qualquer pessoa. Esse papo de um milhão de amigos é promiscuidade. Amizade é intimidade. Intimidade sem mácula, sem sexo. Amizade afasta qualquer desvirtuosismo. Beira o sagrado. Uma amizade bem construída é culto mútuo. Bons amigos se adoram. São determinantes nos amores. Se seu amor não passa pelo crivo do amigo, é amor que não vale. Aliás, vale, quando de seu fim, para o amigo dizer: eu tinha razão. Amigos sempre têm razão. Amigos nunca se vangloriam de ter razão, mas, se não lhes damos razão, o culto não sai perfeito.

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Amizade também tem briga, mas elas nunca são suficientes para acabar com uma amizade. Amizade quando acaba, acaba sozinha. Briga só fortalece as amizades. Amizade sem briga, morre. Acaba. Definha. Minha amiga e eu nunca brigamos... Espere aí!! Minha amiga e eu éramos mesmo amigos? Não sei... sei que a falta de minha amiga ainda me faz companhia.

''O Rei Leão'', a mãe leoa




Dizer que mãe se sacrifica pelos filhos não é nenhuma novidade. Mãe pobre então, nem se fala. Minha mãe sempre foi assim, punha minha irmã e eu como prioridades sempre. Sacrificou-se muito, a coitada. Graças a Deus, seu sacrifício valeu a pena e o tempo das vacas magras passou, não sem deixar preciosas lições e muitas lembranças.
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Basta conversar com a Dona Jandira para notar o grande valor que ela dá à educação e à cultura. Minha mãe sempre acreditou que a arte nos eleva e nos torna pessoas melhores, além de proporcionar entretenimento e lazer. Mas arte e cultura para pobre é um luxo no Brasil. Uma auxiliar de enfermagem, vinda do interior, com uma criança na frente e outra atrás, não podia se dar ao luxo de frequentar teatros, ir a shows, exposições... O que era possível, de vez em quando, eram passeios aos domingos (quando ela não estava trabalhando) no Parque Municipal de Belo Horizonte. Como eram bons aqueles passeios... Se eu pudesse voltar no tempo, não os trocaria por nenhuma Disneylândia com todo dólar do mundo. Éramos felizes e não sabíamos (antes que meu leitor se debulhe em lágrimas, é preciso frisar que sou feliz até hoje, ok?).
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Lembro-me de minha mãe nos levando a peças encenadas na rua e a oficinas promovidas pela prefeitura. Lembro-me dela lendo para nós e nos contando estórias que ouviu em outros tempos. Ela cercou-nos de conhecimento e sonhos. Pela semente lançada por ela é que me embrenhei no mundo das letras. Por esforço dela é que minha irmã e eu vencemos a barreira do ensino médio e chegamos à graduação: realidade tão distante na minha primeira infância em Itabirinha.
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Num dos esforços de minha mãe para que fôssemos atores no mundo, não espectadores, lembro-me do lançamento do filme "O Rei Leão", em 1994. O filme foi um fenômeno, segundo a Wikipedia, "tornou-se o maior sucesso da Disney, com 312 milhões de dólares somente nos Estados Unidos e US$783.841.776 ao redor do mundo. Foi a animação de maior bilheteria, até "Procurando Nemo", em 2003. No Brasil, fez mais de 500 mil pagantes na estréia e 4,2 milhões no total. O VHS vendeu 4,5 milhões de cópias no dia da chegada em 1995, e o DVD, em 2003 chegou a 2 milhões na estréia." Foi a sensação daquele ano. Os cinemas foram lotados por crianças e mais crianças, inclusive minha irmã e eu, certo? Errado! Em Betim não havia cinema naquela época e, onde havia, os ingressos eram absurdamente caros para nossas condições de então.
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Mas, se "O Rei Leão" marcaria a infância de toda uma geração, Dona Jandira não se permitiria deixar seus dois pimpolhos sem participarem daquele ''momento histórico''. Seus filhos teriam que ver "O Rei Leão"! Assim que foi lançado o VHS, minha mãe descobriu uma conhecida sua que tinha em casa um dos objetos de maior desejo dos anos 1990: o videocassete. Conversou com sua conhecida, alugou a fita e marcou um dia para irmos até lá assistir ao badalado filme. Lembro-me que a casa em que vimos o filme ficava em frente ao trabalho de minha mãe. Fomos para lá depois do almoço, início da tarde. Minha mãe deu uma fugidinha do trabalho para nos dar um beijo e ver se estávamos gostando do filme.

As coisas mudaram. Melhoramos de vida. Passado algum tempo compramos videocassete, televisor colorido com controle remoto (a primeira tv que tivemos era vermelhinha por fora e de tela preto e branco, às vezes, para ligar, tínhamos que dar um soco nela), aparelho de som, móveis novos, a casa própria, carro, estudamos, outra casa (maior e num bairro melhor)... Hoje vamos ao teatro sempre que podemos, ao cinema, regularmente, a shows... Compramos livros com frequência, temos internet banda larga e assinaturas de revistas. Tudo melhorou substancialmente. Novas perspectivas se abriram para nós. Sonhamos mais alto agora. De vez em quando, porém, em vez de sonhar, é melhor recordar. Recordar a luta de minha mãe para nos dar dignidade, mesmo quando o mundo insistia em nos negá-la. Hoje sei que, mais que "O Rei Leão", eu tive uma mãe leoa. Guerreira, que não abandona a cria. Que vai à caça. Que luta.
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Mãe, amo a senhora.









Inezita Barroso








Inezita Barroso, nome artistico de Ignez Magdalena Aranha de Lima (São Paulo, 4 de março de 1925), é uma cantora, atriz, instrumentista, folclorista, professora, doutora Honoris Causa em folclore e arte digital pela Universidade de Lisboa e apresentadora de rádio e televisão brasileira, atuando também em shows, discos, cinema, teatro e produzindo espetáculos musicais de renome nacional e internacional.
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Nascida numa família aristocrática e apaixonada pela cultura e, principalmente, pela música brasileira, Inezita começou a cantar e tocar violão e viola desde pequena, com sete anos. Estudiosa, matriculou-se no conservatório e aprendeu piano. Formou-se em biblioteconomia pela USP, antes de se tornar cantora profissional, em 1953. (extraído da wikipedia)



"A Marvada Pinga" é um dos maiores sucessos de Inezita Barroso. Eu simplismente adoro essa música. É muito engraçada, ser interpretada com sotaque caipira a torna mais interessante ainda. A seguir, a letra e o video de uma Interpretação que Inezita fez lá nos anos 1980.

Com a marvada pinga
É que eu me atrapaio
Eu entro na venda e já dou meu taio
Pego no copo e dali nun saio
Ali memo eu bebo
Ali memo eu caio
Só pra carregar é que eu dô trabaio
Oi lá
Venho da cidade e já venho cantando
Trago um garrafão que venho chupando
Venho pros caminho, venho trupicando, xifrando os barranco, venho cambetiando
E no lugar que eu caio já fico roncando
Oi lá
O marido me disse, ele me falo: "largue de bebê, peço por favô"
Prosa de homem nunca dei valô
Bebo com o sor quente pra esfriar o calô
E bebo de noite é prá fazê suadô
Oi lá
Cada vez que eu caio, caio deferente
Meaço pá trás e caio pá frente, caio devagar, caio de repente, vô de corrupio, vô deretamente
Mas sendo de pinga, eu caio contente
Oi lá
Pego o garrafão e já balanceio que é pá mor de vê se tá mesmo cheio
Não bebo de vez porque acho feio
No primeiro gorpe chego inté no meio
No segundo trago é que eu desvazeio
Oi lá
Eu bebo da pinga porque gosto dela
Eu bebo da branca, bebo da amarela
Bebo nos copo, bebo na tijela
E bebo temperada com cravo e canela
Seja quarqué tempo, vai pinga na guela
Oi lá
Ê marvada pinga!
Eu fui numa festa no Rio Tietê
Eu lá fui chegando no amanhecê
Já me dero pinga pra mim bebê
Já me dero pinga pra mim bebê e tava sem fervê
Eu bebi demais e fiquei mamada
Eu cai no chão e fiquei deitada
Ai eu fui prá casa de braço dado
Ai de braço dado, ai com dois sordado
Ai muito obrigado!


Cascatinha e Inhana

Insônia é Freud... 3:52 da matina e eu aqui postando conteúdo que provavelmente não será lido. Se não será lido, que seja minha válvula de escape. Falei, anteriormente de Dalva de Oliveira e postei um video para ilustrar. Agora que aprendi a postar videos nesta bagaça, sou o terror blogueiro...
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O "terror blogueiro" hoje está mais para o "terror caipira". Quem me conhece sabe da minha paixão por tudo que diz respeito à terra, ao Brasil e à cultura do sertão, do interior. Sou apaixonado pelas verdadeiras manifestações culturais. Por aquilo que emana do povo. Da gente simples. A seguir, posto dois videos de uma dupla caipira que vez escola, Cascatinha e Inhana. Antes, apresento uma contextualização (extraída da internet, em itálico) de quem foi tal dupla:
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Quando Francisco dos Santos (20/04/1919 - 14/03/1996) topou com Ana Eufrosina da Silva (28/03/1923 - 11/06/1981) sua vida tomou outro rumo.
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Ele estava em Araras, no interior paulista, se apresentando com o Circo Nova Iorque, e ela foi assistí-lo. Ela tinha 17 anos, estava noiva, mas seu destino estava escrito. "Quando vi aquele mulato tocando violão, me apaixonei" contou ela.
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O violeiro e a moreninha se casaram cinco meses depois, no dia 23 de setembro de 1941. Romance que daria pra virar música, filme e poesia. Cantaram nos picadeiros de centenas de circos por todo o país, gravaram 54 discos de 78 rpm e 30 LPs. Venderam milhares de discos numa época em que vitrola era artigo de luxo. Cantaram o Brasil mulato, o Brasil Caboclo, o Brasil fronteiriço a outros sons e culturas, traduziram a linguagem rítmica e poética de um país que nos anos 50 vivia um acelerado processo de urbanização. (trecho extraído de http://www.lucianoqueiroz.com/cascatinha.htm)

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Neste video é interessante notar que Cascatinha e Inhana dão a explicação do porquê de seus nomes artísticos.





"Índia" é uma guarânia (gênero musical de origem paraguaia, em andamento lento, geralmente em tom menor), que vendeu 300 mil cópias em seu primeiro ano de lançamento e até a segunda metade dos anos 1990 vendeu mais de três milhões de discos. "Índia" mereceu ainda diversas gravações ao longo do tempo como as de Dilermano Reis ao violão, Carlos Lombardi, Trio Cristas e Valdir Calmon e sua orquestra. Em 1973 Gal Costa regravou "Índia", que deu nome a seu LP daquele ano e que obteve grande sucesso. Em 2005 foi tema da personagem Serena, da novela "Alma Gêmea", da Rede Globo, desta vez na voz de Roberto Carlos.




"Meu Primeiro Amor", como pode-se ver, não é só um filme bonitinho estrelado por Macaulay Culkin. É uma belíssima obra de nosso cancioneiro, já gravada por grandes intérpretes, como Caetano Veloso e Maria Bethânia, além dos precursores Cascatinha e Inhana.


Dalva de Oliveira

Há quem demonize a Rede Globo de televisão. Chegam a chamá-la de a sucursal do inferno. Um conhecido meu, nerd, fanático religioso e que não acredita em nada que seja consensual, propaga o ódio a emissora dos Marinho. Eu, pelo contrário, tenho muito que louvar a qualidade de sua produções. Se a Globo peca com seu BBB e com o Domingão do Faustão, se redime por outros aspectos, um dos principais, suas minisseries. Por elas a Rede Globo apresenta o Brasil ao Brasil. Obras literárias são cuidadosamente encenadas (Grande Sertão: Veredas; A Casa Das Sete Mulheres; Os Maias; Memorial De Maria Moura...). Personalidades de nossa história são apresentadas ao grande público (JK; Lampião e Maria Bonita; Chiquinha Gonzaga...). Com o investimento que faz em minisseries, a Rede Globo presta um serviço inestimável a este país.
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Através de uma minisserie recente é que me foi apresentada uma das mais brilhantes cantoras que o Brasil já teve: Dalva de Oliveira. É bem verdade que eu não era completamente alheio ao talento de tal intérprete. Muitas pessoas mais velhas já louvaram seu talento perto de mim. Mas foi a obra feita pela Globo que me instigou a ir além. A ler sobre Dalva de Oliveira. A ouvi-la cantando.


O youtube possui um conteúdo até satisfatório de Dalva de Oliveira, se comparado ao que lá se tem de outros grandes talentos. Uma das raridades que encontrei, gostaria de dividir com você, caro leitor. Trata-se de uma canção carnavalesca chamada "Estrela do mar", que, ao que consta, fez muito sucesso outrora. A seguir a letra, o video e toda a poesia de um época que tem muito há ser resgatado:
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Um pequenino grão de areia,
Que era um pobre sonhador,
Olhando o céu, viu uma estrela
E imaginou coisas de amor.
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Passaram anos, muitos anos.
Ela no céu e ele no mar.
Dizem que nunca o pobrezinho
Pôde com ela encontrar.
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Se houve, ou se não houve,
Alguma coisa entre eles dois,
Ninguém soube até hoje explicar.
O que há de verdade é que depois,
Muito depois, apareceu a estrela do mar.
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Será a bendita paixão?




Mudanças na vida são uma constante para todos, mas há mudanças mais "mudantes" que outras. Às vezes passamos por fases em que uma série de mudanças se somam e, de uma hora para outra, nos damos conta de que nosso mundinho, tal qual o conhecíamos, já não existe. É exatamente por uma fase dessas que estou passando.
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Um momento pelo qual eu muito ansiei foi o da minha formatura na faculdade. Esse momento já bate à porta, e o que faço? Desespero-me. Outra coisa que sempre desejei foi o sucesso profisisonal e pessoal dos meus entes queridos. Numa dessas, minha irmã foi aprovada num concurso público e se mudou para a Bahia. De quebra, levou minha mãe para uma temporada.
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Sucedidos assim só me trazem felicidade (quem me dera eu tivesse uns dez deles por ano...), não estou reclamando, mas me obrigam a fazer um esforço tremendo para me recompor, me adequar à nova realidade. Às vezes penso que tais esforços chegam a mexer com meu sistema imunológico. Com meus sentimentos. Fico vulnerável. Carente.
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Quando se está com a imunidade baixa, doenças oportunistas vêm e nos tomam. Mas e quando estamos com baixa imunidade emocional? Sentimentos oportunistas vêm e nos tomam. O mais perigoso deles: a paixão.
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A paixão, aquela do friozinho na barriga e que nos deixa rindo à toa, é o sentimento que nos pega nos momentos em que ela é mais dispensável. Nos pega quando o objeto de nossa paixão não nos corresponderá. Nos pega quando estamos com a casa em ordem, com um rumo na vida, recuperados de outra paixão. Ela vem e bagunça tudo.
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Pois é, parece que ela chegou para mim. Estou meio que sem conseguir definir meus sentimentos por certa rapariga. É cedo para se afirmar que é paixão, mas duas de suas principais evidências me tomaram recentemente: o friozinho na barriga e a graça sem porquê.
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Quando o assunto é paixão, alguns a defendem veementemente. Outros a tem como coisa do diabo. Eu fico com o meio termo. Reconheço os benefícios advindos dela: ficamos de bem com a vida. Entretanto, não nego os males que acarreta: ficamos ciumentos, irracionais, impulsivos e, o pior de todos, com vocação para dor-de-cotovelo, para o sofrimento.
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A dor-de-cotovelo e eu somos velhos conhecidos. Volta e meia, ei-la me atormentando. Eu dou valor à dor-de-cotovelo e à paixão. Guardo seu devido luto. Ouço músicas bregas. Se preciso, choro. Faz parte do meu show...Um belo dia, acordo e vejo que a paixão passou. É hora de por casa em ordem e dar um rumo na vida. Sigo caminhando, sem saber em qual esquina serei, novamente, acometido pelo mal do coração.
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Por hora, não está definido o sentimento que habita meu peito, todavia, se for paixão, melhor é eu ir me preparando para seus bônus e ônus. Não há como fugir. E para endossar essa certeza, evoco sublimes versos do cancioneiro sertanejo, eternizados por Leandro e Leonardo:
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A gente não teve culpa se a solidão
achou pra nós a saída.
A vida passa, e nesse vai-e-vem,
amores são coisas da vida.